Moda Digital: como as marcas estão otimizando processos com tecnologia
05/02/2021
Não há dúvidas de que a digitalização está presente em vários âmbitos da sociedade. Ações antes totalmente manuais, agora se tornam automatizadas e mudam a forma como o ser humano lida com a tecnologia, que alcança patamares inimagináveis até pouco tempo atrás. Ao ponto de criar roupas virtuais. Isso mesmo, peças constituídas apenas de pixels.
Muito além da indústria 4.0, que vem sendo implantada em empresas fabricantes da moda em todo o mundo como forma de otimizar a produção, ganhar tempo e diminuir desperdícios, grandes conglomerados e marcas especializadas apresentam coleções feitas sob medida para demandas específicas de vestes e avatares para a web.
Ao considerar os protótipos 3D e foto realistas desenvolvidos de maneira remota e sem a necessidade de amostragens e prototipagens, o Brasil já possui bons exemplos. Em meio à pandemia de COVID-19, os estilistas Leandro Benites, da Ben, e Raphael Nascimento, da Another Place, conseguiram desenhar um macacão juntos e lançar a colab totalmente à distância com a ajuda de um software.
Macacão desenvolvido em modelagem 3D feito em colab entre Another Place e Ben Ateliê
Lui Iarocheski mudou seus processos de criação e usa estratégias em 3D para facilitar e acelerar a concepção das peças de grandes grifes interenacionais. Em entrevista ao podcast “Expresso Ilustrada”, o estilista afirma que se trata de um caminho benéfico. “A adoção de tecnologias 3D vai beneficiar todos ao longo da cadeia de suprimentos, até mesmo os consumidores. Isso significa menos amostras físicas, tempo de produção mais rápido e tempo de entrada no mercado mais curto”, afirmou.
Look desenvolvido em 3D para a marca Iarocheski
As ferramentas para este tipo de modelagem existem e estão disponíveis no País, como a solução da Audaces, que conta com o software 4DAlize, no qual é possível extrair uma pré-modelagem e acelerar o trabalho. A roupa é criada diretamente em 4D, já com dimensões reais, e, por meio de recortes, são exportadas formas planas para ajuste e refinamento, entregando a modelagem final de forma rápida e com caimento preciso.
Matheus D. Fagundes, diretor Executivo de Marketing e Vendas na Audaces, explica os três principais pilares de benefício com o uso dessa tecnologia. “A criação é feita diretamente em um avatar, ao qual temos vários biotipos. Assim não é necessário o uso de inúmeras amostras. Isso reduz o tempo da produção. Temos relatos de empresas que que reduziram o leadtiming em 25% para entrega de coleção. Além disso, também temos a diminuição de custos para pilotagens de peças. Já que só são confeccionadas as roupas que foram pré-aprovadas de maneira virtual. A sustentabilidade também importante, pois gera menos resíduos têxteis”, destaca.
Um dos protótipos feitos na ferramenta da Audaces
Matheus ressalta que a técnica pode facilitar também a vida do consumidor final. “Os clientes querem escolher cada vez mais rápido e com melhor custo-benefício. Algumas marcas fazem uma pré-venda no Instagram das peças que foram pilotadas virtualmente. Tudo isso faz com que sejamos cada vez mais assertivos”, disse.
A empresa russa Malivar cria influenciadores virtuais que estimulam o consumo de marcas da vida real. Os modelos avatares têm conta no Instagram e apresentam coleções online que serão fabricadas. Assim, os interessados em adquirir podem fazer pré-encomendas para a produção dos artigos.
Já a varejista norueguesa Carlings conta com um modelo figital- termo para hibridismo entre físico e digital – do qual os clientes compram uma camiseta real e física e recebem autorização para usar um filtro de rede social feito pela empresa capaz de identicar o artigo e torná-lo personalizável somente no digital. Assim, o consumidor pode escolher entre uma animação, estampa, etc. A t-shirt custa em torno de € 300.
Aliona Pole, a influencer avatar da Malivar que usa looks de várias marcas para divulgá-las e faz até reviews de desfiles
Atualmente, um outro segmento econômico desponta como algo promissor: as roupas totalmente construídas em pixels e sem a possibilidade de tê-las no mundo real. A ideia é pensar em looks instagramáveis que não serão repitidos. A The Fabricant, da Holanda, molda as peças exclusivamente virtuais nas fotos dos contrantantes, a maioria influenciadores. O desenvolvimento leva em consideração as preferências da pessoa. A ideia é vestir personalidades que vão usar os modelos apenas para aparecerem em ensaios para redes sociais.
Outro grande nome que aderiu à tendência é a Louis Vuitton, que em 2019 disponilbizou várias roupas digitais para vestir personagens do jogo "League of Legends", conduzindo o mercado de skins – itens para custimizar os avatares dos jogadores – a outro nível.
T-shirt "figital" da Carlings que combina recursos online com o produto físico, a ideia foi um sucesso
Já a Balenciaga se utilizou da gamificação para apresentar versões em 3D de sua nova coleção em um cenário futurista. A ação surgiu de maneira inovadora para conseguir fazer seu tradicional desfile acontecer, mesmo em tempos de pandemia. Afterworld: The Age of Tomorrow
Para driblar a pandemia e mesmo assim realizar seu desfile de Outono/Inverno 2021,
a Balenciaga criou um game com os avatares vestindo a coleção
Esse nicho de negócios tem aparecido bastante como opções de luxo, já que o primeiro vestido digital da The Fabricant foi leiloado por mais de US$ 9 mil. A grife croata Tribute também é uma das players no assunto e vende seus serviços por valores de até US$ 699, apenas para que o cliente envie uma foto e a receba de volta com um look online.
Vestido da The Fabricant arrematado por US$ 9.500 em um leilão. A peça só existe virtualmente
Seja em vestidos totalmente virtuais ou em modelagens em avatares que irão facilitar a produção física, a tecnologia está cada vez mais incorporada à indústria da moda e as empresas precisam estar preparadas.